Maria respondeu à minha carta de felicidade. Diz-me o que o tio Leopoldo lhe recomendou como receita para um casamento feliz: não deixar nunca que uma noite passe sobre um mal-entendido ou uma zanga. Por mais insignificante que seja. Garante que é o que tem feito, com ótimos resultados.
Chocara-a quando lhe dissera, sem rodeios, que ansiava por perder a virgindade, porque devia ser coisa boa, já que não conhecia ninguém que a quisesse de volta.
- Têm medo de perder as próximas eleições, de perder o lugar nos vossos clubes, se derem a impressão que compactuam com Inglaterra - suspirou a rainha, bem consciente do ódio que os jornais espalhavam contra a Grã-Bretanha. - Na realidade, até vos era conveniente? Ficávamos sem as nossas colónias e os senhores até ganhavam com isso. Que triste é a nossa política, que interesseiros são todos, eles e vocês - suspirou, fazendo um gesto de que a reunião estava terminada.
Zangada, triste, enraivecida, destruída, que lhe importava o nome que os outros quisessem dar à sua dor. Só sabia que doía de cada vez que lhe roubavam o futuro.
Para Maria tudo parece ser tão fácil, e não quero ser injusta, porque não sabemos nada do sofrimento dos outros, mas até a morte da pequenina Maria da Glória foi aparentemente superada com facilidade.
No fim da guerras civis é sempre difícil perdoar, sendo enorme a tentação de fazer uso do poder para a retaliação, mas é um erro, diz o meu professor de Política, e espero nunca o esquecer. É difícil aos vencedores serem magnânimos, mas a verdade é que a linha dinástica de D. Pedro, ou seja Maria, ainda está longe de se poder dizer segura. Só que quanto mais medo, menos tolerância. A nossa História está cheia de casos que o provam.
Tenho de confessa que nunca pensei que fossem de tal maneira feitos um para o outro, mas nunca tive dúvidas de que o amor à primeira vista, quando acontece, é poderoso.